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Mostrando postagens de agosto, 2024

Conto de Clarice Lispector

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Tentação                                             Clarice Lispector Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva. Na rua vazia as pedras vibravam de calor - a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra

A Terra é Nossa

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A terra é nossa                                                    Patativa do Assaré A terra é um bem comum Que pertence a cada um. Com o seu poder além, Deus fez a grande Natura Mas não passou escritura Da terra para ninguém. Se a terra foi Deus quem fez, Se é obra da criação, Deve cada camponês Ter uma faixa de chão. Quando um agregado solta O seu grito de revolta, Tem razão de reclamar. Não há maior padecer Do que um camponês viver Sem terra pra trabalhar. O grande latifundiário, Egoísta e usurário, Da terra toda se apossa Causando crises fatais Porém nas leis naturais Sabemos que a terra é nossa.”

Memorial de Maria Moura

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  Olá, Caros Viajantes! Fomos para o Ceará, nesta viagem da escritora Raquel de Queiroz! Um romance de formação, com uma narrativa marcante, a autora com maestria conta a história de Maria Moura, desde sua juventude até a idade adulta. "Minha ideia era meter na cabeça dos cabras e do povo em geral que ninguém pode avaliar do que Maria Moura é capaz”. A obra tem três narradores que nos envolve, Maria Moura, Marialva a prima da protagonista e o Beato Romão (Padre José Maria).  "...Padre José Maria fala sobre as lembranças: O homem feliz é o que não tem passado. O pior dos castigos, para o qual só há pior no inferno, é a gente recordar. O passado te persegue como um cão perverso nos teus calcanhares. Não há dia claro, nem céu azul, nem esperança de futuro que resista aos assaltos da lembranças." Outros personagens vão chamando nossa atenção no decorrer da história como: Valentim que era artista de circo e apaixonado por Marialva; Duarte filho da ex-escrava  Rubina e  meio i