Contos de Natal #5

Olá Caros Viajantes!





"Considerado um dos mais belos escritos do autor, este conto tem emocionado gerações. Quando Jesus percorria a Galileia, os poderosos procuravam Jesus, mas Ele não aparecia. Um dia, uma pobre viúva, mãe de filho deficiente ouviu falar de Jesus e dos seus milagres. A criança pediu à mãe que lhe trouxesse Jesus, esperando o tal milagre (im)possível… Ao que a mãe respondeu: se nem homens ricos e poderosos o haviam conseguido encontrar, que hipótese teria ela!?"


O Suave Milagre  
                                   Eça de Queirós  

O mendigo apanhou o seu bordão, desceu pelo duro trilho, entre a urze e a rocha. A mãe retomou o seu canto, mais vergada, mais abandonada. 

E então o filhinho, num murmúrio mais débil que o roças de uma asa, pediu à mãe que lhe trouxesse esse Rabi, que amava as criancinhas ainda as mais pobres, sarava os males ainda os mais antigos. 

A mãe apertou a cabeça esguedelhada: 

Oh filho! e como queres que te deixe, e me meta aos caminhos, à procura do Rabi da Galiléia? Obed é rico, e tem servos, e debalde buscaram Jesus, por areais e colinas, desde Chorazim até ao país de Moab. Sétimo é forte, e tem soldados, e debalde correram por Jesus, desde o Hebron até ao mar! Como queres que te deixe? Jesus anda por muito longe e a nossa dor mora conosco, dentro destas paredes, e dentro delas nos prende. E mesmo que o encontrasse, como convenceria eu o Rabi tão desejado, por quem ricos e fortes suspiram, a que descesse através das cidades até este ermo, para sarar um entrevadinho tão pobre, sobre enxerga tão rota? 

A criança, com duas longas lágrimas na face magrinha, murmurou: 

Oh mãe! Jesus ama todos os pequeninos. E eu ainda tão pequeno, e com um mal tão pesado, e que tanto queria sarar! 

E a mãe, em soluços: 

Oh meu filho, como te posso deixar? Longas são as estradas da Galileia, e curta a piedade dos homens. Tão rota, tão trôpega, tão triste, até os cães me ladrariam da porta dos casais. Ninguém atenderia o meu recado, e me apontaria a morada do doce Rabi. 

Oh filho! talvez Jesus morresse... Nem mesmo os ricos e os fortes o encontram. O Céu o trouxe, o Céu o levou. E com ele para sempre morreu a esperança dos tristes. 

De entre os negros trapos, erguendo as suas pobres mãozinhas que tremiam, a criança murmurou: 

Mãe, eu queria ver Jesus... 

E logo, abrindo devagar a porta e sorrindo, Jesus disse à criança: Aqui estou.


Até breve e boas leituras!


Comentários

  1. Oi meninas! Sofrimento é algo triste demais para se viver, ainda mais quando não se tem as ferramentas para amenizá-la. Muito bonito apesar de triste, o conto, tem esperança.
    Um ano anovo com mais esperanças de harmonia e igualdade entre os seres!
    Abração!

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