Carlos Drummond de Andrade


Um homem e seu Carnaval
Carlos Drummond de Andrade, do livro “Brejo das Almas”. 1934.

Deus me abandonou
no meio da orgia
entre uma baiana e uma egípcia.
Estou perdido.
Sem olhos, sem boca
sem dimensões.
As fitas, as cores, os barulhos
passam por mim de raspão.
Pobre poesia.

O pandeiro bate
é dentro do peito
mas ninguém percebe.
Estou lívido, gago.
Eternas namoradas
riem para mim
demonstrando os corpos,
os dentes.
Impossível perdoá-las,
sequer esquecê-las.

Deus me abandonou
no meio do rio.
Estou me afogando
peixes sulfúreos
ondas de éter
curvas curvas curvas
bandeiras de préstitos
pneus silenciosos
grandes abraços largos espaços
eternamente.

Comentários

  1. Linda e bem escolhida poesia! beijos, ótimo dia de Carnaval! chica

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  2. Não sei se entendi direito, mas gostei, forte e realista!
    Nem sempre o tempo nos joga em mares azuis de lembranças, os brejos também existem.
    Bom final de feriado, meninas!
    Abraço!

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